O paradoxo do fracasso Olímpico.

Incrível como existem críticas de todos os lados para nossos atletas olímpicos por supostos fracassos. Fácil cobrar deles no momento em que toda  a atenção do mundo está voltada para este evento grandioso. Mas e durante os três anos que antecedem os Jogos Olímpicos, onde estavam todos? Onde estavam os patrocinadores? Onde estava o apoio da imprensa?

Um país como o nosso, que vive futebol, onde esse esporte que realmente é a paixão nacional movimenta nada mais nada menos que R$ 11 Bilhões por ano (segundo pesquisa de Fundação Getúlio Vargas), acaba sendo mais viável comercialmente, e um lucro garantido, investir no futebol. O custo por atleta chinês em Londres, por exemplo, girou em torno de R$ 45.000,00 enquanto o atleta brasileiro custou perto de R$ 30.000,00. Um valor tão próximo, mas porque essa discrepância no quadro de medalhas?


O futebol fracassou, diferentemente dos esportes olímpicos, que pede investimento para também  virar uma potencia. (Foto: uol.com.br)

 
Não vou fazer comparações com os E.U.A, porque sabemos que a infraestrutura esportiva deles, começa na pré-escola, onde o desenvolvimento dos atletas começa cedo, esse projeto já leva anos. Se analisarmos o desenvolvimento da China e suas medalhas ao longo dos anos, podemos perceber que o país seguiu um crescimento educacional voltado para o esporte. Em 1988, os chineses conseguiram somente 5 medalhas de ouro, em 1992 e 1996 conseguiram 16 de ouro, em 2008, quando Pequim sediou os Jogos, eles fecharam a classificação geral, com 51 medalhas de ouro, e em Londres o número final foi de 38 medalhas de ouro.

O rigor na educação é muito contestado, mas além de estudarem um turno, as crianças aprender logo cedo o inglês, e complementam suas atividades do dia com um esporte que tem mais afinidade. E esse desenvolvimento segue, para caso não se consiga formar um atleta, o cidadão está formado, e com uma educação de qualidade. Não vou entrar em detalhes sobre isso, somente fazer um comparativo, se tivéssemos uma educação, onde desde cedo, as crianças fossem familiarizadas com o esporte, tudo poderia ser diferente.

Aí eu vos pergunto, como um atleta, que na maioria das vezes depende de apoio dos familiares no início da carreira pra seguir no esporte, onde a dedicação e a paixão muitas vezes é o único fator motivacional, consegue chegar ao maior evento esportivo do mundo, e lograr uma medalha, independente de cor, ser considerado um fracasso? O número de medalhas ainda é pouco em comparação ao tamanho do Brasil, mas esses atletas que tiram dinheiro do próprio bolso, esse mesmo dinheiro que fará falta no fim do mês em muitos dos casos, que treinam geralmente com aparelhos ultrapassados, tem que ser considerados heróis.

O boxe baiano em Londres mostrou ser grande, o judô mais uma vez conseguiu medalhas importantes, a ginástica trouxe um ouro inédito, e o Pentatlo, onde uma nordestina conseguiu com muito suor, realizar seu sonho. O verdadeiro fracasso veio destes guerreiros que lutaram e se dedicaram, mostraram vontade e o sangue brasileiro?

A verdade é somente uma, somos mal acostumados por termos o melhor futebol do mundo, mesmo em crise, somos os únicos pentacampeões mundiais no futebol, e isso transformou o futebol no preferido do país, e a torcida sempre faz o comparativo com outras modalidades, mas o investimento, as atenções e a importância que se dá não é a mesma. O triunfo e a derrota andam de mãos dadas para os desportistas, houveram fracassos e sempre haverão, isso é normal no esporte, mas uma boa preparação é necessária para superá-los, mas a preparação para alcançar o topo e se manter é muito maior.

No Rio 2016, haverá um investimento maior para o esporte Olímpico é claro, mas temos que nos preocupar com o legado que ficará. Para isso, a reestruturação educacional é essencial, a formação de atletas tem que começar desde cedo, aqui geralmente se espera o atleta ter seu ápice na carreira para se olhar com mais preocupação (vide Maurren Maggi, Fabiana Murer, César Cielo, Claudinei Quirino), mas o cidadão tem que ser formado em paralelo. Se esses atletas tivessem um acompanhamento e um investimento madrugador na carreira, teriam alcançado resultados muito mais expressivos, já que têm um potencial incrível, sem contar os que pararam no meio do caminho por falta de apoio. Para sermos uma potência Olímpica, a formação tem que começar cedo, junto com uma educação de qualidade e centros de treinamento adequados com os esportes, temos quatro anos para isso, e a realmente torço para que o brasileiro de modo geral olhe para os esportes olímpicos do mesmo jeito que olha pra o futebol, que não torça e apoie somente nos grandes eventos, o espirito do futebol tem que contagiar o espirito olímpico, isso seria um prelúdio e uma esperança para uma evolução no quadro de medalhas nos próximos jogos.



Por Juba Leiro
Salvador

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