Desde pequeno no sábado, dia anterior a qualquer Ba-Vi, já dormia com a camisa do Vitória, aliás não dormia, sonhava sempre imaginando as jogadas e esperando o domingo chegar ansiosamente. Em 1990 com apenas 4 anos de idade, comecei a ir pra gloriosa Fonte Nova acompanhado por meu pai, estava lá na final do Baianão do mesmo ano, quando teve aquele apagão contra o Fluminense de Feria, que não voltou pro segundo tempo e fomos campeões, vibrei muito, mas ainda sem saber como era o gostinho de estar presente em um Ba-Vi. Pela pouca idade, minha mãe se preocupava que eu me perdesse em meio à multidão do maior clássico do Norte-Nordeste, sabe como é mãe. Mas não tardou muito pra meu momento chegar, em 1992, depois de muito insistir, consegui a tão sonhada permissão pra ver a Fonte do Futebol com as maiores torcidas da região, cantando de um lado e de outro apoiando seus times. Do lado de fora, já se via um mar de gente para o tão esperado embate. Como de costume, ficamos atrás do gol da Ladeira da Fonte, mas comecei a perceber torcedores do Bahia se juntando a nós e perguntei a meu pai se a gente ia ficar junto com eles na torcida, e ele me disse: "Aqui é a torcida mista, fique tranquilo que hoje a gente vai fazer gol aqui desse lado" Me explicou, praticamente profetizando o que estava por vir, ao mesmo tempo em que cumprimentava um amigo dele com a camisa do Bahia. Até quando os times entram em campo o nervosismo é diferente, e eu já ia sentindo isso na arquibancada, e ainda no primeiro tempo com a expulsão de Dourado, o Bahia partia pra cima perdendo muito gol, com bola na trave, a angustia só aumentava. Logo depois mais um expulso do Vitória, com nove em campo eu já pensava no pior. Mas após as expulsões, parece que o Vitória cresceu em campo e a raça passou a prevalecer por parte dos comandados de João Francisco. Arturzinho e Zé Roberto dois monstros dentro de campo. E foi dos pés deles que veio o gol do triunfo, Zé Roberto recebeu na ponta esquerda, meteu no meio das pernas de Paulo Rodrigues e cruzou pro “gigante” Rei Arthur mandar pro fundo das redes do goleiro Jean. Era tanta felicidade que foi gritaria, correria, sorvete voando junto com o algodão doce, agonia da zorra. Não tinha como explicar a sensação do primeiro gol em um Ba-Vi. E no fim de jogo, era perturbação na arquibancada, zuando primo, amigo, todo mundo dentro da mista, com a camisa do Bahia, rindo, brincando, se retando, mas mostrando que o melhor do jogo é isso, a resenha na paz.


Foto: oas.com.br

O tempo passou, vários clássicos também, uns com triunfos, outros com derrotas, mas normal coisa do futebol. Mas além disso, assim como em todo país a violência cresceu e invadiu os arredores dos estádios em dia de Ba-Vi. Caso de segurança pública, assim como toda insegurança que nosso país passou a viver. Poucos momentos de diversão restaram pra alguns, e pra quem é apaixonado por futebol, ir com a família assistir um clássico, levar sua esposa, namorada, filhos, sempre é um programa pra se divertir e esquecer esses problemas fora de campo, é relembrar e vivenciar momentos como os descritos acima.

Quando me deparei com a notícia que os Ba-Vis podem ser somente com a torcida mandante, vários questionamentos vieram a minha cabeça. Não vou poder me encontrar com meus amigos que são Bahia antes do jogo pra beber uma cerveja, e depois pra sacaneá-los pela derrota com gol de Neto Baiano, não vou poder pedir carona com meu vizinho Bahia, que fala muito antes do jogo, mas depois tem que me aturar o caminho todo de volta, pertubar o porteiro que se esconde na guarita, com o cobrador que fica murcho no canto dele, tudo isso faz parte do clássico, é o jogo, a amizade continua sempre.

Esquecendo a parte emotiva, outros questionamentos vieram, com a torcida única dentro dos estádios, o que vai impedir que confrontos entre torcidas aconteçam nas ruas, nas proximidades dos estádios (assim como ocorreram no último Ba-Vi no Barradão), que encontro marcados pela internet entre marginais das torcidas aconteçam, entre outros e mais outros pensamentos. O fato é que somente tive uma certeza, o problema é bem maior, é a insegurança que cresce, é a violência que aumenta cada vez mais, não só entre marginais torcedores rivais, mas em toda a cidade. Somente uma torcida DENTRO do estádio não vai diminuir ou impedir que confrontos existam FORA dele. Portanto senhores, medidas tem que ser tomadas, não para privar torcedores do bem de verem seus times do coração, que encontrem amigos que torcem pro rival (afinal todo rubro-negro tem um amigo maluco que torce pro Bahia), mas sim pra controlar atos de violência como um todo, independente de jogo de futebol. Medidas podem ser tomadas sem segregar nenhuma das torcidas e tiram a alegria de ver a torcida do adversário quieta por ter sofrido um gol, esse gostinho é sensacional. Lutemos pelo movimento de paz, diga não a essa possível decisão e sim por uma segurança pública mais efetiva dentro e fora dos estádio, nas ruas, na cidade e no país. Portanto, DEIXE MEU BA-VI QUIETO, que eu quero é torcer.



Por Juba Leiro
Salvador

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