Copa das Confederações – Deu tudo certo!

 
Pensei em fazer desta vez um texto bem maior do que aquele que lancei nas previsões, com análise sobre todos os jogos do torneio, mas desisti. Fi-lo (by Jânio Quadros) principalmente porque a primeira fase aconteceu quase que exatamente do jeito que se esperava. Não há muito o que se falar sobre ela.

No grupo A, Brasil e Itália venceram seus dois primeiros jogos. Nossa seleção jogou de modo confortável nas duas partidas, notadamente por ter feito gols logo nos primeiros minutos dos jogos, ambos assinados com o talento de Neymar. Isso tirou boa parte do peso que havia na equipe e no seu maior astro. Já a Itália passou certo sufoco contra o México e teve enormes problemas no embate com o Japão, naquele que foi o jogo mais emocionante do torneio. Os asiáticos, inclusive, mereceram vencer a partida pela enorme supremacia na etapa final. Não fosse assim, com dúvidas e dramas, não seria a Itália.

Chegaram ao último jogo da fase para disputar o primeiro lugar (e a fuga da Espanha nas semifinais). Nesta partida, que tive o prazer de assistir in loco, o primeiro tempo foi morno. A pressão inicial do Brasil não surtiu efeito (por detalhes), depois a Itália ganhou terreno, mas pouco ameaçou. No fim da etapa, Neymar cavou uma falta e após sua cobrança, o baiano Dante abriu o placar. O segundo tempo foi sensacional, cheio de alternativas. Muita correria e mais cinco gols, que acabaram por definir um importante triunfo brasileiro por 4x2. No outro jogo, o México fez 2x1 no Japão.

O grupo B também não teve surpresas. A Espanha venceu seus três jogos, o Taiti foi a piada anunciada e o jogo entre Uruguai e Nigéria, que também acompanhei no estádio, definiu a classificação dos favoritos Sul-Americanos.

O que deve ser registrado de excepcional na primeira fase foram os protestos que tomaram conta do país. Brasileiros e brasileiras aproveitaram que os olhos do mundo inteiro estavam por um momento voltados para o país e foram às ruas para manifestar diversos descontentamentos. Apesar da ausência de foco temático no discurso das pessoas, a descoberta (ao menos por aqui) das redes sociais como meio de organizar movimentos de massa pode impulsionar demandas mais concretas no futuro. Se já houve tudo isso agora, bem, “imagine na Copa”?

Nas semifinais, Europa de um lado, América do Sul de outro. Foram jogos duríssimos, incertos, que indicaram a pressão que existe nestes tradicionais encontros de conhecidos rivais. O Brasil, apesar das claras dificuldades, conseguiu salvar-se da prorrogação com um gol saído de escanteio cobrado por Neymar e concluído por Paulinho nos últimos instantes do jogo. A Espanha foi dominada de maneira categórica pela Itália no primeiro tempo, com uma marcação avançada e lançamentos em profundidade. Os jogadores da Azurra demonstraram a força do seu renovado elenco, mas sentiram falta de precisão nas conclusões (talvez pela ausência do lesionado Ballotelli). A partir do segundo tempo, os espanhóis cresceram na partida, que passaram a dominar na prorrogação, sem que conseguissem tirar o zero do placar. Nos pênaltis, cobranças impecáveis até Bonucci lembrar Baggio e Baresi em 1994, e Jesus Navas sacramentar a vaga dos ibéricos.


Cavani e Buffon saíram da competição com mais moral. (Foto: globo.com)


Na disputa de terceiro lugar, o Uruguai não conseguiu vencer uma combalida Itália e acabou derrotado nos pênaltis, com participação decisiva de Buffon. Penso que a Copa foi importante para elevar a moral da Celeste nas Eliminatórias e para definir a Itália como uma das favoritas no Mundial.

 
A FINAL

Nem eu, nem Felipão esperávamos aquilo tudo.

Alguns conhecidos que menosprezam o futebol jogado pelo selecionado espanhol, esquecendo dos resultados concretos alcançados pela ótima Roja nos últimos anos, diziam que o Brasil venceria com folgas. Eu duvidava. Achei mesmo que a Espanha era favorita: mais entrosada, mais experiente, acostumada a situações adversas e extremamente eficiente, além de invicta há anos. Não negava, porém, as chances brasileiras, como expus neste blog, no texto inicial que escrevi sobre a competição.

Para muitos brasileiros, adeptos da Teoria da Conspiração inspirada no nosso “complexo de super-homem” no futebol (o de vira-lata foi sepultado em 1958), a analogia que farei não terá qualquer sentido. Na verdade, a ouvi de um amigo e concordo plenamente. Se tiverem dúvidas, confiram os links abaixo.

A partida me lembrou demais a final da Copa de 1998. Aqui, porém, fomos a França – a Espanha, o Brasil. Jogamos a competição em casa. No início, a torcida ainda desconfiava das possibilidades da Seleção. Havia a esperança em um craque, que certamente precisava mostrar serviço defendendo a pesada camisa do seu país, mas que já era muito bem cotado pelos seus serviços no seu clube. Ah, enfrentaríamos os campeões mundiais e continentais, com jogadores de renome e experiência, a quem os analistas conferiam certo favoritismo. Mas não foi “só” isso. Teve o hino...

http://www.youtube.com/watch?v=WiSMZ3WYTn8
http://www.youtube.com/watch?v=9x1hWNsirJQ

Apenas para registro, não acho que nosso hino deva nada à pulsante Marselhesa. E cantado assim, com direito a resistência à limitação temporal imposta em competições esportivas (coisa que se verificou em todos os nossos jogos), fica ainda mais bonito.

Pois bem. Tenho a impressão de que todos sabem o que deve ser feito para bater a Espanha. O adversários devem tirá-los do conforto do seu padrão de jogo. Como? Pressionando o toque de bola do meio-campo espanhol. Onde? Antes de eles chegarem à intermediária ofensiva. O problema é executar este plano. Por 90 minutos então, nem se fala.

Pois o Brasil conseguiu fazê-lo por quase todo o tempo. Mais uma vez, fizemos um gol no início da partida – méritos à pressão feita e ao oportunismo de Fred, o que abriu as portas da confiança. No plano tático, marcação avançada e pesadíssima no meio-campo espanhol. O Brasil jogava com um Daniel Alves mais preso que de costume. Luiz Gustavo (extraordinário na partida) atuou bem junto de Paulinho, apertando as tabelas dos meias da Espanha. Oscar e Hulk tiveram participação decisiva nas roubadas de bola, sendo que o segundo foi primoroso taticamente, ao anular os avanços do excelente Jordi Alba, que vinha em grande forma na competição.


Neymar e Fred: muitas razões para comemoração. (Foto: placar.com)


Como foi dito, o primeiro gol foi o sinal de que daria tudo certo. E deu! Para ficar ainda melhor, Fred poderia ter aproveitado passe preciso de Neymar, mas finalizou de primeira para defesa de Casillas. Já na parte final do primeiro tempo, vieram os dois lances que definiram a partida. Naquele momento, a Espanha começava a se soltar no jogo, tanto que já tinha recuperado a supremacia no quesito posse de bola e a mantinha por mais tempo no campo de ataque.

Em um lindo lance de troca de passes, Fernando Torres saiu do comando de ataque e encontrou Juan Mata na esquerda; o meia-atacante do Chelsea serviu com perfeição Pedro, que dominou a bola e tocou com categoria na saída de Júlio Cesar. David Luiz, que acompanhava a jogada, pressentiu o gol na finalização do barcelonista e correu para se posicionar atrás do goleiro brasileiro. Não teve tempo para isso: precisou chegar de carrinho na bola que estava a poucos passos da linha. Ainda fico me perguntando como aquela bola não entrou. O cabeludo conseguiu um corte por baixo da bola, que a fez encobrir o travessão. “Gol do Brasil”. Seguia dando tudo certo...

Mas, como diria a Polishop (e as falidas Organizações Tabajara), não é só isso. Poucos instantes depois, o Brasil armou belo contra-ataque. Neymar recebeu na esquerda, avançou e achou Oscar no meio. Após a marcação fechar no meia, ambos foram extremamente inteligentes. Neymar recuou até a posição do último zagueiro e Oscar só deu o passe quando o seu companheiro já estava em condição legal. O garoto ajeitou com um toque e fuzilou Casillas de pé esquerdo mesmo. Um golaço! O Brasil virava para o segundo tempo numa condição extremamente confortável. Tudo dando certo.

Para fechar a jornada iluminada, logo nos primeiros instantes da segunda etapa, Marcelo fez fila no meio-campo e achou Hulk; o paraibano rolou para Fred, que finalizou com categoria. Caprichosamente, o goleirão espanhol chegou a tocar na redonda, mas ela beliscou a trave lateral e beijou novamente as redes. 3x0! Teria mais?

Teve. Não gols, mas ainda aconteceu muita coisa no jogo. A Espanha teve um pênalti (eu não o marcaria) que Sérgio Ramos desperdiçou. Júlio César fez duas importantes intervenções em finalizações do ataque espanhol pelo lado esquerdo. Neymar puxou contra-ataque em velocidade e, parado por carrinho de Piqué, causou a expulsão do futuro companheiro de equipe. No fim do jogo, o Brasil impôs um “olé” ao pessoal das touradas, coisa que eles não sofriam há alguns anos... Um show!

Lembram da comparação com a final da Copa da França? Pois é. Até o placar final foi o mesmo...


Maracanã foi como o Stade de France em 1998. (Foto: veja.com)


Claro que deste resultado podem surgir muitas conclusões absurdas. As principais, que tive o desprazer de ouvir, foram: a) a Espanha não é lá essas coisas; b) a Copa é nossa.

Tanto a Espanha “é lá essas coisas” que é a campeã mundial e bicampeã europeia. Não é pouco. O estilo de jogo que impressionou o mundo, porém, já é mais visado e melhor marcado hoje. Com pequenas modificações táticas e o reforço de alguns jogadores (eu citaria a possibilidade do retorno de Xabi Alonso e da entrada de Isco na seleção), é, sem a menor dúvida, uma das grandes candidatas ao título da Copa.

Já o “oba-oba” em torno do Brasil é esperado, mas preocupante. O Brasil, para mim, deixou claro que é um dos favoritos ao título mundial. Meus aplausos de pé para o trabalho de Felipão. Foi competente motivador, como sempre (com que pilha o Brasil jogou!), teve a estrela que o caracteriza, mas notadamente foi primoroso taticamente na final. Como eu frisei aqui no blog, fez uma ótima convocação, mas muito mais do que isso: montou um esqueleto de um time capaz de grandes realizações. Além disso, Neymar chamou a responsabilidade e definiu, como um craque deve fazer.

Ocorre que a Copa será outra competição. Não necessariamente dará tudo certo, como deu neste torneio. O Brasil, muito por competência – evidentemente, achou todos os gols que precisou, sempre. Nada garante que o quadro na Copa seja este. A Seleção merece respeito e confiança da torcida, mas isso não pode ser confundido com o “oba-oba” do “somos os melhores”, o país do futebol e “a Copa é nossa”. Isso costuma atrapalhar e muito nossos planos, como aconteceu em 2006.

Lembro sempre que o Brasil é o maior vencedor das Copas do Mundo. Mas, das 19, não ganhamos 15 ou 16. Levamos 5 taças. Muitas outras seleções merecem respeito. O Brasil certamente terá de superar dificuldades muito maiores que as enfrentadas agora para conseguir o hexa. É muito importante que mantenha os pés no chão.

Por fim, minha seleção da Copa das Confederações difere daquela anunciada pela FIFA em alguns pontos. Eu iria de Júlio César, Sergio Ramos (improvisado, mas não na esquerda), Thiago Silva, David Luiz e Jordi Alba; Paulinho, Pirlo e Iniesta; Neymar, Cavani e Fred. Técnico: Felipão.

É isso aí, caros leitores. Até a próxima Champions!



Por Diego Cabús
Salvador

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