Resenha: Previsões Copa das Confederações

 
Ano anterior a Copa do Mundo é ano de Copa das Confederações. Se é futebol, o Resenha de Boleiros também entra em campo! Como indicava Maquiavel aos governantes, vamos falar logo tudo de ruim sobre o evento para passar às flores aos poucos.

Em primeiro lugar, Copa das Confederações nada tem a ver com Copa do Mundo. Sei que é um pouco desapontante para quem quer começar as suas conclusões e apostas para 2014, mas a história comprova isso. Até hoje, nenhuma seleção que venceu a competição levantou a taça da Copa seguinte. Ponto.

Sempre faltam ao torneio boa parte das melhores seleções do mundo. Nesta edição, temos Japão, México e Taiti, mas Argentina, Holanda e Alemanha não. O torneio é, na verdade, uma jogada da FIFA para inclusão de todas as Confederações continentais, com igualdade (ou proximidade) de representação. Até por isso, o nível técnico dos seus jogos costuma ficar bem distante das etapas finais da Copa.

Nem quero me estender sobre a correria desenfreada para finalização dos estádios, que “justificou” aumentos sucessivos nos valores de suas construções, muito menos do dinheiro público fartamente usado nas empreitadas. Apenas faço este registro, bem como aponto que as tais obras acessórias que constituiriam o suposto “legado” ficaram em terceiro plano. A maioria nem deve sair do papel, se é que chegaram a aparecer em papéis. Creio que tenham ficado mais em abstratos discursos de políticos oportunistas. Há quem possa justificar que a Copa do Mundo é só no próximo ano e que em 12 meses vão fazer tudo o que não fizeram em 4 anos. Vou fingir que acreditarei...

Às flores, então!

Craques confirmados, promessa de alguns bons jogos, maior competição internacional de futebol disputada no Brasil desde 1950. Não tem como alguém que goste de futebol não estar no mínimo animado com a competição que será realizada no país. Já tenho alguns ingressos comprados e imagino que a maioria dos nossos leitores esteja na mesma situação.

Vamos à análise dos grupos formados e das chances de cada seleção no torneio.

GRUPO A:

BRASIL
JAPÃO
MÉXICO
ITÁLIA

Se for seguida a tradição de nomear em todas as competições o “grupo da morte”, não há dúvidas de que é este que merece a alcunha.

Felipão talvez precise lembrar a Neymar a direção do gol adversário (Foto: uol.com.br)


BRASIL

Sobre a seleção brasileira, tenho a dizer que vive um momento de enorme desconfiança do seu povo e instabilidade. Mano Menezes, na precisa definição que ouvi em um programa da ESPN Brasil, chegou sem merecer, foi mantido sem merecer e depois foi demitido sem merecer. Acho que é bem por aí. No único momento que Mano parecia trabalhar de modo mais maduro e focado na definição de um grupo coeso para as grandes competições do porvir, saiu. E saiu exatamente para amenizar a insegurança dos brasileiros. Quem poderia tranquilizar os ânimos? Sem dúvidas, o último campeão mundial pela Seleção era um bom nome. Auxiliado pelo treinador do tetra então...

Pois estão eles aí: Felipão e Parreira. Foi a aposta do presidente Marín, o homem que substituiu o foragido Ricardo Teixeira e que tem uma ou duas (ou dez) manchas na sua vida pública, sendo a mais recente o furto de uma medalha que deveria ser entregue a um dos atletas vencedores em premiação de evento esportivo. Pois o “mão leve” foi firme na sua aposta: conservadorismo total.

Conheço um mundo de gente que tem restrições a Parreira. Pois as minhas são muito mais a Luiz Felipe Scolari. Não gosto de Felipão taticamente, nem das suas escolhas de jogadores. Acho o sujeito incoerente e teimoso de doer. Vou dar só um exemplo: na Copa de 2002, Felipão não havia convocado Ricardinho, em grande fase no Corinthians de então. Com a contusão de Emerson (que era titular da equipe), o treinador o chamou à “Família Scolari” (ah, a Globo...). Não é que o sujeito virou praticamente um 12° jogador do Brasil? Mas o cara nem ia ser convocado! Pois é.

Estabelecida minha restrição ao bigodudo, não nego que o sujeito tem estrela. Quase o matam em Portugal quando ele preteriu Vitor Baía para escalar Ricardo na meta da seleção lusa. Pois o “guarda-redes” incorporava alguma coisa inexplicável na seleção. Fez partidas memoráveis, inclusive em duas disputas de pênaltis contra a Inglaterra, na Euro2004 e na Copa de 2006.

Gostei também da convocação da seleção para esta competição. Vejo muita gente reclamando das ausências de Kaká e Ronaldinho, mas minha queixa maior é falta de Ramires. Fiquei, porém, satisfeito com Hernanes e Luiz Gustavo, dois ótimos jogadores que mereciam e muito esta chance. Julgo positivas as apostas em Oscar e Lucas. Fred vem correspondendo nos amistosos e era normal que fosse mantido (apesar de eu não achar que aquela “9” amarelinha lhe caia tão bem). E vamos ver se o novo barcelonista Neymar vai fazer o que se espera dele: resolver. Bola ele tem para isso, mas a falta de experiência e a máscara podem pesar. Espero que não.

Atrás, eu daria mesmo a chance a Júlio César, apesar de ter sido responsável direto na eliminação brasileira na África do Sul. A zaga me preocupa pela irresponsabilidade do ótimo David Luiz, mas Tiago Silva passa muita segurança e há Dante no banco. Os laterais são ofensivos e convém que seja estabelecido um bom sistema de cobertura para as suas subidas.

Acho, sinceramente, que o Brasil tem chances. No meu quadro de favoritos, vem abaixo da Espanha, ali pertinho da Itália. Mas é, sem dúvidas, uma equipe em formação, sem muitos jogadores habituados a grandes competições internacionais. Isso pode influenciar.

 
JAPÃO

É uma seleção que merece respeito há algum tempo. Respeito não é temor, nem adoração. Os orientais são presença frequente nas Copas do Mundo desde 1998, já tendo passado duas vezes da primeira fase. No âmbito continental, detém certa supremacia desde os anos 90, com quatro títulos da Copa da Ásia. Além disso, é a primeira seleção classificada nas eliminatórias para a Copa do Mundo de 2014, em todos os continentes.

A seleção japonesa sofreu uma reformulação nos últimos anos e figuras como o eterno Nakata, Nakamura e Kawagushi já não fazem parte da lista de convocados. O técnico italiano Alberto Zacheroni tem como principal referência ofensiva o instável Kagawa, que teve grande passagem recente pelo Dortmund e hoje atua pelo Manchester United. O meia-atacante Honda também é figura importante no elenco. Na defesa, o bom Uchida, do Schalke04, é o principal nome do time.

Acredito que o Japão, assim como o México, podem incomodar as duas principais seleções do grupo. O jogo disciplinado e veloz dos asiáticos, em um dia menos inspirado de brasileiros e italianos, pode trazer problemas a eles. Dos quatro integrantes do grupo, porém, acho que o Japão é o mais fraco.

 
MÉXICO

Pouca gente lembra disso, mas os mexicanos têm no seu currículo um título da competição: foi em 1999, contando com o respeitável ataque Blanco e Hernandez (carrasco da seleção brasileira algumas vezes). É participante frequente da Copa das Confederações e avança às oitavas-de-final da Copa do Mundo consecutivamente desde 1994. Nunca passou desta fase, porém.

Grande parte dos seus jogadores atua no futebol local, que tem um forte campeonato nacional. Seus maiores destaques, todavia, atuam no exterior. O perigosíssimo Javier Hernandes, o Chicharito, é jogador do Manchester United e, apesar de atualmente ser reserva, sempre que entra faz seus golzinhos. Giovanni dos Santos foi rebaixado com o Mallorca, mas é um atleta de ótima qualidade, assim como o Guardado, do Valência. No gol, há quem goste muito de Ochoa, mas nunca senti firmeza no arqueiro.

Creio que o México esteja à espreita de uma chance. Se Brasil ou Itália hesitarem, os mexicanos vão beliscar essa vaga nas semifinais.


El Sharaawi e Balotelli no Rio: a Itália respira novos ares (Foto: fifa.com)


ITÁLIA

A renovada seleção italiana impressiona. O vexame de 2010 já foi quase esquecido com o vice-campeonato da Euro 2012, com direito à eliminação da forte seleção alemã na semifinal. A goleada sofrida na final manchou um pouco a campanha, mas os italianos surpreenderam.

A azurra finalmente abriu mão da base campeã de 2006, mas mantém os lendários Buffon e Pirlo no grupo. O goleiro vem mostrando certa instabilidade nos últimos tempos, enquanto o meia segue acima de qualquer suspeita, na Juve e na seleção: é um verdadeiro maestro.

O bom lateral Maggio,  o ótimo meia Montolivo e o veloz atacante El Shaarawi são alguns dos responsáveis pela nova fase italiana. O polêmico Balotelli deve vestir a camisa de titular no ataque e terá mais uma chance de mostrar que pode jogar tanto quanto apronta fora de campo. É, sem dúvidas, um atacante de recursos, forte fisicamente, habilidoso e bom finalizador. Fez uma bela Euro e chegou bem ao Milan. Mas ainda acho que ele precisa provar que joga ao menos metade do que ele pensa que joga...

Detalhe: ao lado da Espanha (não contarei o Taiti), é a seleção que mais tem atletas dos mesmos clubes: são 8 da Juventus e 5 do Milan. Muito interessante para uma competição internacional em que a falta de entrosamento é um dos maiores problemas.

PALPITE: BRASIL e ITÁLIA devem avançar, mas qualquer jogo que italianos ou brasileiros deixem de ganhar, acende uma luz vermelha para a última rodada, quando se enfrentam e assistem a japoneses e mexicanos se digladiarem, sedentos por uma vaga.

O grupo promete emoções.

GRUPO B

ESPANHA
URUGUAI
NIGÉRIA
TAITI

Há um elemento que não pertence ao conjunto, não? De resto, o favoritismo evidente e a promessa de uma batalha épica pela segunda vaga.


Iniesta é o maior entre os craques da seleção que conquistou o mundo (Foto: uol.com.br)

ESPANHA

A Fúria agora é respeitada e temida. Campeã mundial e das duas últimas edições da Euro. Seleção de enorme entrosamento, com um elenco equilibrado e completo, craques à vontade e um treinador vencedor.

Algum problema? Bem, talvez. Ausência de Puyol? Nem tanto. A raça do catalão sempre pode fazer falta, mas o time cresce tecnicamente com Ramos na zaga central e Azpilicueta na lateral direita. Envelhecimento de Xavi? Não creio. O meia ainda parece ter lenha para queimar e há boas opções para substituí-lo. Má fase de Casillas? Acredito que era apenas opção de Mourinho no Real. Iker é dono da “1” na seleção e deve dar conta do recado.

Acho que o maior problema da Espanha é mesmo o foco. É complicado para quem já ganhou tudo, concentrar-se ao máximo para ganhar tudo de novo. “Ah, mas não ganharam a Copa das Confederações”... é mesmo! Mas será que isso é uma motivação real, para quem conquistou as taças que os espanhóis ergueram nos últimos anos? É o que veremos.

Apesar de experiente, o plantel espanhol é jovem e figuras como Juan Mata e David Silva têm tudo para assumir um papel de destaque nas próximas competições. Estão no auge da carreira.

Pela história recente e pelo entrosamento dos seus atletas, não tenho dúvidas: é a favorita ao título.

 
URUGUAI

Os campeões da América do Sul vivem um momento complicado. A quarta colocação na Copa da África, seguida de uma inesperada taça na Copa América da Argentina encheu os uruguaios de esperança do retorno ao topo do futebol mundial. Não sem motivo. O ataque uruguaio efetivamente mete medo. Não podemos dizer o mesmo do sistema defensivo.

Nas eliminatórias, uma campanha verdadeiramente desapontante. Esperava-se que a Celeste estivesse junto de Argentina e Colômbia (essa uma equipe muito perigosa), classificando-se sem problemas. Não é o que vem acontecendo. O último triunfo contra a Venezuela, fora de casa, clareou o destino do clube. Mesmo assim, a vaga direta à Copa é muito difícil. Hoje o Uruguai disputaria a repescagem.

A equipe, ao contrário do que aconteceu em alguns jogos das classificatórias sulamericanas, vem completa para a Copa da Confederações. O craque do último mundial, Forlán, é hoje uma estrela sem o mesmo brilho do excelente Luis Suarez e do matador Edinson Cavani. Devem jogar os três juntos na frente. Chamo a atenção para a ótima fase do raçudo Cavani, artilheiro do Campeonato Italiano da última temporada.

Atrás, não sinto firmeza. A equipe não passa segurança e tem uma das piores médias de gol tomados da Conmebol. Pessoalmente, não gosto de Muslera e acho Lugano já esteve melhor. Compensa a boa fase de Maxi Pereira no Benfica. Martin Cáceres também tem demonstrado que pode dar certo na seleção.

Creio que o Uruguai disputará uma vaga nas semifinais no último jogo, contra a Nigéria. Acredito que os latinos sejam favoritos nesta briga.

 
NIGÉRIA

Confesso que preferiria a presença de outra seleção africana. Gostaria de ver ou Costa do Marfim ou Gana representando o continente.

Assisti ao jogo da Copa da África em que a Nigéria eliminou os marfinenses e fiquei até empolgado com a equipe. Não conhecia a maioria dos jogadores, mas atendem à tradição de velocidade e ousadia que fez da Nigéria a sensação da Copa de 1994.

Impressiona na lista o número de atletas que atuam no futebol local. Em outros tempos, era inimaginável que a seleção convocada tivesse 8 jogadores atuando em clubes do próprio país. A maioria, entretanto, é reserva.

Pois o time de muitos rostos desconhecidos perdeu demais com as lesões de Moses e Emenike. O primeiro é atleta de certo destaque do poderoso Chelsea e o segundo atua no futebol russo e foi o grande destaque da seleção na Copa da África.

Penso que a Nigéria corre por fora, mas que deverá ter sua chance na partida final contra o Uruguai.

O Taiti. Convenhamos: futebol para quê? (Foto: revistaturismo.com.br)


TAITI

Agradeço à boa vontade do amigo e colega neste blog, Juba Leiro, por ter me encaminhado um e-mail com dados sobre a seleção taitiana. Confesso que nada sabia sobre eles. Ainda sei muito pouco.

Passando os olhos na campanha da seleção na Copa da Oceania em que se sagrou campeã, vemos um time avassalador na primeira fase. 18 gols marcados em três jogos! Na semi e na final, dois 1x0 e a histórica taça.

Uma pergunta: a final foi contra quem? Contra a Nova Caledônia! Dessa eu não sabia quando jogava na infância “ABC de países” (o que é lamentável, pois a letra “N” era uma das mais complicadas).

Algum desavisado perguntará: e a Austrália? Agora atua pela Confederação da Ásia.

Outro melhor informado emendará: e a Nova Zelândia? Perdeu para a Nova Caledônia!

Sinceramente, pode até acontecer um milagre, mas nem me darei ao trabalho de levar o Taiti muito a sério. É candidato a elevar a média de gols da competição (não exatamente do jeito que fez na Copa da Oceania...), a jogadas bisonhas e a demonstrar que o desnível entre as Confederações é abissal. Bem capaz de mostrar que essa história de que “não existe mais bobo no futebol” é balela!

Só conheço um atleta da equipe: Vahirua. Confesso que não lembro que tipo de atacante ele é, mas fez carreira no futebol francês (o Taiti, afinal, é a “Polinésia Francesa”) e hoje está na Grécia, já aos 33 anos.

E viva a FIFA...

PALPITE: ESPANHA e URUGUAI devem avançar. Nigéria tem suas chances.

 

Por Diego Cabús
Salvador

Deixe seu comentário